É sempre bom relembrar e analisar os momentos chave da nossa vida, sejam eles bons ou maus. É a memória que nos permite avançar para os desafios do presente com mais certezas, confiança e experiencia. Quero partilhar convosco como comecei esta aventura.
A primeira vez que consegui acreditação para fotografar um concerto foi em 2012: Sara Tavares no Centro Cultural de Belém em Lisboa.
Foi uma decisão que andava a adiar por todos os motivos e ainda mais alguns que ia inventando todos os dias. O medo, o desconhecimento, a falta de experiência, o medo (já disse isto?…). Todos os dias me inspirava com o trabalho de outros fotógrafos, com artigos em blogs, videos, etc, para tentar juntar lata suficiente para pedir a acreditação e ter a lata de aparecer com o meu ar amador/turista e fotografar ao lado de profissionais. Até que, finalmente, percebi que o máximo que poderia acontecer era perder duas horas da minha vida e não conseguir uma única foto interessante.
Os promotores do concerto da Sara Tavares foram impecáveis e trataram-me como um outro qualquer fotografo freelance. Tive muita sorte. Sim, sorte tem tudo a ver com fotografia.
O grande auditório do CCB não é uma sala fácil para fotografia. Palco fundo, fotografar apenas nos lados sala ou ao fundo junto à mesa de som/luzes e uma iluminação muito fraca.
E, como em qualquer cobertura fotográfica, não se trata apenas de um desafio, mas sim de um conjunto variado de dificuldades e obstáculos que tem de ser vencidos para se conseguir produzir um bom trabalho. Senão vejamos:
1) Material
É fundamental ter “bom vidro”, ou seja, objectivas de boa qualidade. Afinal de contas queremos capturar luz e queremos que esta chegue ao sensor da maquina na sua melhor forma: sem perdas, minimamente inalterada e sem defeitos cromáticos e de defracção/refracção causados pelos materiais usados na construção da lente.
É importante, mas não fundamental, ter um corpo com um bom sensor. O ideal será sempre um sensor Full Frame, mas isto é discutível.
3) Acesso (acreditações)
É preciso pôr o pé na porta. Ligar, perguntar, enviar um e-mail, qualquer coisa que nos permita colocar em contacto com as pessoas responsáveis pela organização do evento e pedir a autorização para fotografa-lo de acordo com as regras impostas que devem ser sempre seguidas à letra: zonas permitidas, quantidade de musica, uso de flash, etc. E caso seja difícil faze-lo como freelance, posso associar-me a um órgão de comunicação social o e trabalhar para e em nome deste, sendo que neste caso, o pedido de acreditação é gerido pelo próprio meio e deixa de ser um problema.
4) Condições de Luz
Não há como escapar a isto. Temos de trabalhar com a luz que temos. Luz esta que pode estar a mudar constantemente. Para cada fotografia estamos a decidir uma serie de questões para conseguir uma boa exposição. Normalmente é uma questão de compromisso entre ISOs elevados e/ou valores de /f pequenos (aberturas grandes) e/ou velocidades de obturador no limite para não ficar desfocado com movimento. Tudo isto tem os seus pros e contras. Conhecer as capacidades e limitações do equipamento que estamos a utilizar é muito importante.
5) Posição relativamento ao Palco
Não acampar no mesmo sitio. Mudar de local (respeitando as regras impostas), mudar ligeiramente de altura, de angulo. Tudo isto pode ajudar a que consigamos as melhores imagens possíveis. No caso do concerto da Sara Tavares no CCB, cometi o erro de ficar demasiado estático na mesma zona. São erros que ajudam a melhorar. E ter muita atenção ao que nos rodeia, sobretudo obstáculos, público e os outros fotógrafos que estão a trabalhar no mesmo local que nós.
6) Criatividade
Para o concerto da Sara Tavares, só me preocupei com as imagens seguras, demasiado atento aos parâmetros da câmara e tentar perceber se as imagens estavam bem expostas ou não. Criativamente estão longe de serem boas fotografias, mas valem pela experiencia e conhecimento que transmitem. Atualmente, quando fotografo um concerto já tenho um boa ideia do que pretendo obter. Sei se vou experimentar algo novo ou não. Já terei estudado a banda e sei quem são os seus elementos. Se for um local que já conheça, tento experimentar novos pontos de vista, usar lentes que à partida não seriam a primeira escolha. Quando fotografo para algum meio de comunicação social, existe uma serie de imagens que tenho obrigatoriamente de obter para conseguir contar a história. A partir daí é uma questão de ser o mais diferente e criativo possível.
Portanto, não é por falta de motivos que poderia chegar à conclusão de as coisas nunca me correriam bem. Mas, apesar de tudo, não foi mal de todo e tenho fotos para comprovar. E mais importante ainda: nos 15 minutos que tive o prazer de fotografar o concerto da Sara Tavares, aprendi imenso.
E sendo assim, sejam quais forem os obstáculos ou as dificuldades, seja em que aspecto for da vida, o mais difícil de vencer é sempre o nosso “Eu”, os nossos medos e as nossas indecisões. Não podemos desistir de lutar contra aquilo que nos impede de atingir os nossos objectivos (mesmo que seja nós próprios) e simplesmente decidir faze-lo. Lançar-se de cabeça e fazer o melhor que conseguimos. E se não resultar: ou tenta-se novamente; ou tenta-se outra coisa… mas tenta-se sempre!
Carpe Diem.
By Luis Macedo
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Comment
Que bom receber este e-mail! 🙂 Boa sorte com a divulgação do projecto, que se abram mais portas e se desbravem mais barreiras! Beijinhos Ana