25 de Abril de 1974: É importante agradecer e valorizar este dia e não dar como certo e garantido o seu conceito mais central: a Liberdade de Expressão.
Nunca, em toda a minha vida de adulto, senti tanto como nestes últimos tempos, que esta minha Liberdade tivesse tão em risco. E as ameaças e perigos, ao contrário dos anos da ditadura, não são visíveis, personificáveis numa pessoa, grupo de pessoas ou em instituições. São forças invisíveis e muitas vezes convidadas por nós mesmos a fazerem parte das nossas rotinas e do nosso quotidiano. São sobretudo forças económicas e financeiras que nos encaminham como cordeiros num determinado sentido e acabamos por fazer parte destas forças sem que o percebamos.
Poderá soar a teoria da conspiração, mas eu penso que em momento algum de nossa historia humana como actualmente precisamos tanto de agir e, ao mesmo tempo, estamos tão incapazes de acção.
E um dos grandes motores de acção em qualquer democracia são as forças da cultura e das artes. São sempre os artistas, os pensadores, aqueles que usam a força da democracia e da liberdade de expressão até às suas ultimas consequências: elevar a sua voz, a sua arte, a sua expressão até todos os outros. São sempre aqueles que primeiro pensam e falam sobre as nossas realidades. São aqueles que nos despertam e nos fazem pensar também nas nossas condições de cidadãos e pessoas.
Por isto tudo, é que me preocupa tanto o desinvestimento na cultura e arte. O estado tem de proteger a cultura porque é algo muito frágil e efémero. Tem de ser o seu principal Mecenas e Protector.
O nosso 25 de Abril deve muito às vozes que se foram levantando contra o estado autoritário. Muitas delas eram artistas, pensadores e pessoas da cultura. Foram aliás, provavelmente, aqueles que mais sentiram e testemunharam a intervenção da ditadura na sociedade no dia-a-dia. Entre elas associamos sempre um nome entre tantos outros: Zeca Afonso. Um grande talento que aplicou nas suas canções, toda uma força de acção para que, apesar de tanto ruido e desinformação, houvessem algumas vozes a cantar algo de verdade e importante.
Faz hoje um ano que fotografei e filmei um espetáculo pensado por André M. Santos para celebrar a liberdade, mas também a vida e obra de Zeca Afonso.
Fica aqui o resumo daquele dia, porque a preservação da memória ajuda-nos a viver em verdade no presente e estar atentos aos perigos do futuro.
Poderão ver a reportagem fotográfica completa aqui: Sons da Utopia
Viva a Liberdade!
Carpe Diem.
Comment
Uma das grandes vitórias conseguidas em Abril foi, de facto, o acesso a coisas, a culturas, a artes, etc. até então reprimidas por um Estado Autoritário.
Em termos políticos, por trás de um conceito de democracia existe outra coisa chamada Cleptocracia!
Esta democracia representativa não responde às necessidades do País. Vivemos uma ditadura partidária onde tu votas em pessoas que são escolhidas pelos partidos e não por ti ou seja, juízes em causa própria (leia-se deputados eleitos) que depois de eleitos podem agir como bem entenderem durante 4 anos – ou seja até à próxima eleição.
Por outro lado, votar, que é o mesmo que passar um cheque em branco a alguém que na maioria das vezes nem sabemos quem é, cujo passado não foi escrutinado ao detalhe para se saber da sua idoneidade e competência, neste sistema, é o acto de maior ingenuidade ou demência que o eleitor pode demonstrar. O problema é que por um lado as pessoas não se querem cultivar intelectualmente já que isso dá trabalho e por via disso são no mínimo politicamente menos instruídos e portanto não percebem que este sistema não responde aos interesses deles próprios, por outro é um povo individualista sem um verdadeiro sentido patriótico que os leve a unirem-se e a forçarem as modificações políticas absolutamente imprescindíveis ao desenvolvimento do país.
Nem liberdade nem democracia porque o cidadão só é verdadeiramente livre quando a democracia está ao serviço dos seus interesses o que não é o caso. Basta olhar para o estado do ensino, da saúde, da justiça, para não mencionar o maior cancro para qualquer país livre e democrático, a CORRUPÇÃO, para se perceber claramente que em Portugal não existe nem liberdade nem democracia.
Não defendo de forma alguma o “antes do 25 de Abril”, mas custa-me ver a completa subversão de valores assentes num conceito que para muitos é democracia, mas que na realidade é a serventia a interesses superiores que andaram a usar os votos do povo para levarem avante os seus interesses pessoais, partidários e dos lobby’s que alimentam.
Os que lutaram por este dia, e fora da política, hoje devem estar a dar voltas no túmulo (os que já partiram) e a perceber que o trabalho iniciado está completamente fora do que era o conceito da Liberdade.
Mas ainda há quem entenda isso e continue a lutar no dia-a-dia para ser realmente livre.
Um abraço